Gosto de te ver ao sol, leãozinho
De te ver entrar no mar
Tua pele, tua luz, tua juba
Gosto de ficar ao sol, leãozinho
De molhar minha juba
De estar perto de você,
E entrar no mar
Por onde ele passa, por onde ele brinca, por onde ele fica, lá está alguém para censurar seu cabelo. Não tão distante, lá está meu cabelo para ser desaprovado.
Sociedade e seu padrão (ou seu consumo?) de beleza!
Qual mal há em uma criança do sexo masculino ter o cabelo um pouquinho (ou tantinho) maior? Que mal há na mamãe aqui ter o cabelo natural, sem tintura, "sem corte"?
Em minha primeira infância não tive quase nada de cabelo, o que fez com que eu acreditasse, durante a gestação, que meu filho estaria predestinado à desventura.
Ele nasceu...
E eu não sabia o que fazer com tanto cabelo! Deixei, deixei e deixei...
Apaixonei pela juba do leãozinho! E o filhote de leão também aprova a minha juba (termos que usamos carinhosamente).
Mas alegria escandalosa perturba.
Foi só uma questão de tempo para as pessoas começarem a fazer perguntas para meu filho:
_ Sua mãe não corta o seu cabelo? (Claro! A culpa é sempre da mãe)
_ Não tem tesoura na sua casa?
_ Sua mãe está te deixando de castigo com esse cabelo?
E comentários do tipo:
_ Tem que cortar esse cabelo.
_ Tem que fazer corte de rapaz. (Onde está o manual de "corte de rapaz"?)
_ Seu cabelo está igual de menina.
_ Seu cabelo está feio.
Fico pensando no que faz uma pessoa dizer essas coisas para uma criança de 3 anos.
Quem planta a noção de "belo" e "feio" nas crianças são os próprios adultos que, posteriormente, acham um absurdo um coleguinha que diz para o outro na escola "seu cabelo é feio" ou "seu cabelo é ruim". Com quem será que as crianças andam aprendendo algumas coisas???
O constrangimento é agravado porque muitas pessoas que falam isso para o meu filho não falam o mesmo para crianças de cabelo "liso". Oi? Não entendo essa lógica de que meu filho, por ter o cabelo mais ondulado, não pode ter o cabelo longo.
Ora, se cabelo longo é coisa de menina, por que elas podem ter o cabelo curto e o inverso não é tolerável?
O que dizer do meu cabelo? Já ouvi tantas coisas que nem sei mais enumerar, na verdade, sei apontar uma... "Mamãe, eu gosto do seu cabelo!"
A magia da maternidade está aí.
Para desentristecer, leãozinho
O meu coração tão só
Basta eu encontrar você no caminho
Certa vez li que adultos intolerantes geram filhos intolerantes.
A oração do meu dia hoje é que os intolerantes tenham a oportunidade de economizar hostilidade e distribuir um pouquinho mais de respeito à diversidade.
Largue o nosso cabelo!
Fernanda Garrides
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