Era fim de tarde. Ele estava brincando no playground do parque e eu por perto, sem o perder de vista entre tantas crianças. Uma jovem aproximou. Aparentava vinte e poucos anos, assim como eu. Entoava, algumas vezes, que acompanhava o irmão mais novo, como quem quisesse dizer que não possuía idade suficiente para estar ali como mãe. Meu filho apareceu no alto do playground e gritou:
- Mamãe, olha onde estou!
Acenei e ele logo entrou no brinquedo para outra aventura. Não demorou muito para a jovem questionar:
- Ele é seu filho???
E sem que eu terminasse de responder, a próxima pergunta já estava elaborada:
- Mas quantos anos você tem?
- Alguns invernos, mas não passei dos 25 ainda. Respondi sorrindo.
- Nossa! É que você não tem cara de mãe!
Cara de mãe?! É sério? Lembrei dos meu últimos posts: Mãe tem cara de quê? #parte01 e Jovem. Estudante. Trabalhadora. Mãe. Eu luto pelo fim da cultura do estupro.
Ela continuou:
- Mas ele fica com sua mãe, não é?
Então quer dizer que mães "jovens" não têm capacidade de cuidar dos seus filhos?
- Claro que não! Minha mãe é muito atarefada e não tem obrigação alguma. Ele fica na escolinha enquanto trabalho e estudo.
- Você trabalha? E estuda? Perguntou ela surpresa por encontrar uma mãe "jovem, que trabalha e estuda".
- Sim! Sempre estudei. Cursava uma faculdade quando descobri a gravidez e ainda prestei vestibular novamente e mudei de curso.
Ela ficou surpresa e continuou a conversa com uma série de interrogatórios. Passado um tempo, disse que estava na hora de ir. Foi ao playground e tentou arrancar de lá o bebê que estava acompanhando. Seguiu andando, foi quando ouvi um choro próximo de "mamama" e o bebê a fitar aquela jovem que, já um pouco distante, disse:
- Sem choro! A mamãe vai carregar você no colo.
Entendi então o quanto ela deveria ouvir que uma mãe jovem teria dificuldades para trabalhar e estudar, que precisaria da avó para cuidar da criança... Eu também ouvi e ainda ouço esses comentários, mas aprendi que não é vergonha ser a "mãe jovem".
Ela, tão mãe quanto eu, simplesmente achou que eu não tinha a "cara de mãe".
Estávamos ali, partilhando do mesmo amor, dos julgamentos e da experiência de ser mãe quando ninguém sabe ou lembra que somos.
Fernanda G.
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