Parto (a)normal

 A gente vê em filmes e novelas partos lindos, simples, mágicos! Mas nem sempre é assim... Hoje vim contar sobre o nascimento da minha princesinha. Já faz mais um ano, eu sei. Mas é muito difícil esquecer meu parto anormal (denominação dada pelo meu marido) Rsrsrsrs.

36 semanas

Na segunda-feira meu pai decidiu que me buscaria no trabalho todos os dias, até a Anna nascer para eu não ir embora de ônibus com a barriga gigante.

Na quarta-feira cheguei em casa, peguei a Gwen (minha linda bulldog) e fui passear. Vi o açougue aberto, fiz minha encomenda, fui para casa deixar a Gwen e buscar meu cartão. Voltei ao açougue e comprei a carne.

Thiago (meu marido) chegou, comemos carne com batata frita (o que não é normal porque jantamos todos os dias. Fazemos comida à noite para levarmos almoço no dia seguinte).  Todos os dias lavo o meu cabelo, pois é bastante oleoso. Esse dia eu não quis lavar, porque pensei "acho que a Anna vai nascer. Vou lavar na hora de ir para o hospital". Então, fomos dormir.

Acordei quase 1h da manhã sentido algo molhado.

- Thiago, me ajuda. Acho que a bolsa estourou. Pega um papel pra mim, senão vou molhar tudo.

Depois do Thiago perceber o que estava acontecendo, ele levantou e pegou o papel (como se um pedaço de papel higiênico fosse segurar a quantidade de água, pelo que me disseram depois...). Fui ao banheiro. Nada. Nem uma gota.

- Thiago, acho que fiz xixi na cama, só pode ser isso. A bolsa não estourou e a cama nem está tão molhada. Se não é xixi, deve ser resto do tampão (tinha saído a alguns dias).

- Pode ser e pode não ser. Vamos ao médico – ele disse.

Depois de eu dizer muito que não e o Thiago (com todo seu jeitinho ogro de ser) me convencer a ir, eu disse:

- As minhas coisas e as coisas da Anna estão prontas. Arrume suas coisas. Vou tomar banho.

Tomei banho, lavei o cabelo, curti o momento com calma. Saí do banho e Thiago estava deitado, ainda de cueca e sem arrumar nada. Fiquei muito brava. Então, ele resolveu levantar e arrumar as coisas.

Chegamos ao hospital às 01:58h. Às 3:30h a médica disse que eu estava com 3 centímetros de dilatação e em trabalho de parto latente. Então, ela pediu que eu andasse até 5:30h, para ver se haveria mais dilatação e se eu entraria efetivamente em trabalho de parto.

- Se ela não entrar em trabalho de parto, a gente volta pra casa? – Thiago respondeu.

- Sim. – a médica respondeu. – Quero interná-la com, pelo menos, 5 cm de dilatação. Não a deixe parar de andar.

- Então, Cíntia, se vira. Não tenho condição de trabalhar “amanhã”.

Thiago foi ao ortopedista e me deixou andando. Entre a consulta e o raio x ele ficou me cobrando, por que eu estava sentada, mas eu não aguentava mais andar, pois estava sentindo muita dor e contrações.

- Pega uma lixeira pra mim. Corre, pega lá, não vou chegar a tempo. – Pedi ao Thiago, mas o mesmo não se moveu, então vomitei no chão. O enfermeiro me deu saquinhos e fiquei vomitando neles, de tanta dor que eu sentia.

No horário combinado a médica me chamou (já era outra, Dra Gina), me examinou, disse que eu continuava com 3 cm de dilatação, porém a parede do útero estava muito fina e eu teria que ser internada.

- Para cada centímetro dilatar, demora em média 1h / 1h30. Então, você pode ficar aqui umas 10 horas em trabalho de parto, fique tranquila. Vou ligar para o anestesista e pedir para ele subir para te anestesiar agora.

Eu não queria ser anestesiada, porque da última vez que isso aconteceu, fiquei meses com uma dor de cabeça insuportável e não conseguia imaginar essa dor de cabeça acompanhada de uma recém nascida. Mas não tive escolha, achei que não suportaria mais. Ela ligou!

- Você deu sorte. O melhor anestesista está aqui e hoje nem é plantão dele. Ele trocou com outra pessoa.

Aguardando a internação

Thiago foi realizar o processo de internação e fiquei na enfermaria esperando. Fui internada às 6:30h. Já não aguentava andar, de tanta dor, portanto fui para a sala de pré-parto de cadeira de rodas.

Neste ponto, Thiago já tinha parado de fazer piadinhas, pois percebeu que eu estava sofrendo de verdade.

Fui anestesiada assim que cheguei à sala de pré-parto. Nada. Fui anestesiada de novo, nada. De novo, nada.

- Você consegue mexer as pernas? – O anestesista perguntou.

- Sim. – E mexi.

- Não pode ser. Você já foi anestesiada várias vezes. Vou te dar a dose que damos para o parto, é mais forte.

Ele aplicou a anestesia e eu apaguei. Sabe aquela coisa de filme, que a pessoa ouve tudo mas não consegue reagir? Era eu.

- Ela está tendo contração e não está reclamando – o dr. Eduardo disse ao meu marido. – Agora a anestesia pegou.

Eu queria responder que não, que eu estava sentindo tudo, mas eu simplesmente não conseguia. Sensação estranha! Na próxima contração eu gritei. Foi espanto geral na sala de pré-parto. A anestesia simplesmente não pegou! Nenhuma das 7 anestesias pegou!!!

Em trabalho de parto

Ás 8:55 eu já estava com 10 cm de dilatação. Tempo extremamente curto. Porém, a Anna não aparecia. O médico me explicou que existem marcos (-3, -2 -, -1, 0, 1, 2, 3) e ela estava no marco 0.

- A gente costuma esperar 30 minutos após a dilatação estar em 10cm. Já tem quase 1 hora e ela ainda não desceu, provavelmente, você não tem passagem. Sei que você quer muito o parto normal, esperamos o máximo que poderíamos, mas teremos que fazer uma cesariana.

Fiquei decepcionada, queria tanto parto normal. Eu queria esperar mais, queria ver se ela desceria, mas o médico me convenceu:

- Se ela for para o marco 1 ou 2, terei que puxar com fórceps e eu não quero fazer isso.

Pronto. Melhor argumento não existia! Fomos para a sala de parto. Decidi que mudaria de maca sozinha (santo pilates!).

Pilates da gravidez

Pilates da gravidez

Quando eu estava com os pés em uma maca, os ombros em outra e o tronco levantado, entre as duas macas, senti a contração mais forte do planeta, gritei de dor e espanto. Ela passou, deitei na outra maca e o médico disse:

- Vai ser parto normal! Estou vendo a cabeça dela!

O que veio a seguir foi inacreditável. O médico, enfermeiro e anestesista felizes, vibrando, parecendo realmente satisfeitos por não terem que fazer cesariana (já que eu não queria).

Anna nasceu e me entregaram.

Agradeci a Deus mentalmente e disse: 

- Minha filha está roxa.

- Ela acabou de nascer -  a enfermeira disse – é normal.

- Não. Ela está MUITO roxa.

Depois de um tempo, me contaram que o cordão estava enrolado no pescoço e isso a estava impedindo de descer. Quando eu fiquei toda torta entre as macas, ela conseguiu uma folga e desceu.

Primeiro foto da minha princesa

Senti uma picada na perna. Perguntei o que era e não entenderam porque eu ainda sentia. Depois vieram os pontos.

- Dei duas anestesias locais, estou no sexto ponto e você está sentindo dor. Vou te sedar.

- Não, doutor, quero ficar com minha filha. Pode continuar.

- Não consigo fazer isso com você. Vamos sedar.

- Ela não está sentindo dor, não é possível! – O Anestesista disse.

- Está sim. – A enfermeira respondeu.

Só lembro de acordar, pouco mais de 14h, procurando minha filha. Ela estava ao meu lado na sala de pós-parto, toda linda!

Fui para o quarto e o médico foi também me contar algo que ele disse ser inédito:

- Eu estava com a agulha na mão e você estava calada. Quando eu te costurava, você dizia coisas como “Ai, ai isso dói. Aí dói”.

Gente, não foi fácil, nem um pouco. E passaria por tudo isso de novo. Sim, pretendo ter outro(a) filho(a). Tudo que passei não foi suficiente para me fazer desistir de ser mãe novamente. Tudo isso vale muito a pena.

Agora você me pergunta: qual o fundamento deste post?

O fundamento principal, é nem tudo são flores, mas o resultado vale à pena, Depois de tudo ver a carinha do seu anjinho não tem preço! Você até esquece por tudo que passou. É sério, nem me lembro mais da dor, apenas dos fatos. Sei que doeu, mas não me lembro exatamente como.

Seja forte no trabalho de parto. Lembre-se que a grande recompensa está a caminho e tudo ficará mais fácil!


Beijoooo

@minhas24horas