Sempre ouço alguém dizer a expressão "mãe de legging" para se referir àquela mãezinha que está sempre com uma calça de ginástica, uma legging ou peça parecida. Um bom tênis também costuma estar no pé.
Algumas dessas mães estão indo ou voltando da prática de atividade física, algumas podem trabalhar com serviços que demandem esse tipo de roupa e algumas podem usá-la por falta de opção, por falta de conforto em outras peças, por não possuir o manequim social, por falta de tempo, por falta de recursos, por falta de alguma coisa ou muitas coisas.
Só que é comum as pessoas falarem de "mãe de legging" de uma forma pejorativa.
Eu não sou de usar legging, mas adoro um sapatinho baixo.
A maternidade transforma! Em todos os sentidos. Nunca fui de ser apegada em moda. Gosto de ter meu próprio estilo. Gosto de estar confortável. Eu costumava andar de salto até dentro de casa antes de ter filho. Era um vício. Comecei a usar sapato baixo durante a gestação e não larguei mais. Ainda tenho um amor por salto, mas só uso em ocasiões muito atípicas.
Eu gosto mesmo é de vestir o que quiser. De sentir conforto. De sentir liberdade para usar qualquer coisa.
A maternidade, entretanto, faz brotar comparações mentais na gente. Passei a comparar a minha moda com o modo de vestir de outras mães. É inevitável! Principalmente quando você chega em algum lugar que as pessoas descobrem que você é mãe e ficam analisando seu conjunto só porque você tem um estilo diferente.
Costumo definir meu estilo como de estudante. Porque é verdade! Sempre estou com livros, textos e cadernos. Acabo optando pela fiel mochila. Na correria da rotina é impossível usar o dia todo uma roupa ou sapato sabendo que vou carregar muitas coisas, andar longas distâncias, subir e descer escadas. Estou sempre correndo e mesmo assim chegando atrasada.
Não faz sentido eu não usar peças confortáveis, mas existe um estranhamento como acontece com a "mãe de legging".
Já fiz alguns post aqui no Blog sobre "mãe tem cara de quê?", um #parte01 e #parte02 (clique em cima dos nomes para ler), porque as pessoas costumam formular um padrão de mãe e, quando você não se enquadra nesse padrão, é comum você ouvir "nossa, mas você não tem cara de mãe".
Se é coisa da minha cabeça?
Outro dia fui num encontro de pais. Eu estava com um vestido preto básico um pouco acima do joelho e um sapatinho baixo. A reunião era no início da noite e eu estava vindo de uma rotina de trabalho e aula. Já tinha uma rodinha de pais formada quando cheguei e foi automático todo mundo olhar pra mim. Na hora, comecei a pensar que deveria ter ido mais arrumada, já que todos estavam vestidos com roupas sociais e as mulheres com salto, mas logo pensei que não tinha motivo racional para pensar qualquer coisa nesse sentido. Parei de pensar. Podia ser coisa da minha cabeça. Encostei em um cantinho e percebi a chegada de outros pais. Passavam e cumprimentavam os outros pais que já estavam no local, mas eu era ignorada, como se não existisse ali. Uma mãe em especial chamou a atenção: ela cumprimentava um a um, perguntando quantos filhos tinham, nomes dos filhos e outras coisas. Pensei, por um segundo, que a pobre mãe de vestido preto e sapato baixo encostada no canto da sala fosse finalmente ser percebida. Ela aproximou e não perguntou nada como estava perguntado aos demais pais. Indagou:
- E você? Quem é?
Por dois infinitos segundos na minha mente pensei: sério? Sério que ela está falando dessa forma só porque não estou vestida como ela? Sério que eu não posso ser mãe que usa sapato baixo? Que carrega um tanto de bolsa? Que veio aqui após um dia de muitas tarefas? Sério que eu não posso ser mãe só porque não sigo o padrão dos outros pais que estão aqui?
Ainda tentei ser simpática (mentira! Porque não consigo ser simpática em situações preconceituosas) e disse que era mãe.
Ela subiu a sobrancelha como quem estivesse esperando outra resposta e saiu, sem dizer mais nada.
Por acaso, escrevi em meu último post aqui no Blog (Mulher e Mãe) que a repressão transita por uma diversidade de formas. Parece que não posso cansar de escrever sobre isso. Não enquanto eu e outras mulheres vivenciarmos diariamente situações de preconceito, de violência, de machismo, de injustiça, de opressão.
Ainda é coisa da minha cabeça?
Fui roubada na última semana e acabei ouvindo de algumas pessoas "como você estava vestida?" e "o que você estava fazendo?". Culpabilização da vítima! Argumento também muito utilizado para promover a cultura do estupro.
É difícil falar de liberdade? Então faço uma prece, pelas mães e não mães que usam legging, pelas mães e não mães que usam sapato baixo, pelas mães e não mães que usam o cabelo preso, que não vestem roupas caras, que não usam aquela maquiagem... Deixem elas em paz! Deixem elas com sua moda, com seu conforto, com sua rotina. Deixem elas serem elas mesmas. Deixem elas escolherem o que querem usar dentro do orçamento delas. Não olhe torto. Não julgue ninguém pela aparência. Ela pode ser quem educa seus filhos, quem limpa a praça, quem defende seus direitos, quem cuida da sua saúde. Ou pode ser alguém que nunca fará nada por você, mas que nem por isso não merece seu respeito.
Lutemos pelo empoderamento feminino, pela libertação de padrões opressores. Sejamos mulheres, mães, livres!
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