quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Relato de parto: Escute o seu coração!

Era quinta feira, última consulta antes do parto, que estava marcado para o domingo. Saindo do consultório, minha querida Dra Maria Inês se despede assim: "Até domingo! Isso se você não me ligar antes, a lua vira hoje!" Ri, mas saí mais murcha que alface ao meio dia! A cesariana estava marcada e eu não estava feliz, queria muito o parto normal ou pelo menos tentar.

relato parto normal




Minha mãe e a Má (que é a irmã que eu não tive e é também dinda do Ben) ficaram me pajeando na última semana, eu já tinha 2cm de dilatação e estava vivendo em Nárnia, literalmente! Eu prostrei emocionalmente, não conseguia fazer nada, estava em estado de choque, tanto que foram elas que arrumaram minha mala e a do Ben para maternidade. Meu aniversário, que foi dias antes do parto, passei chorando e não quis fazer nada. Ainda briguei com o Ed, porque eu tinha que descontar em alguém, né? Hahaha! Tadinho! Mas vamos relevar, né? Os últimos dias são rodeados de preocupações, ansiedade e eu tinha um agravante, meu parto era considerado de risco por causa do meu quadro de trombofilia. (Saiba mais sobre minha gravidez com trombofilia aqui.)

A volta do consultório nunca foi tão longa, realmente estava triste por ser cesariana. Sabe quando o coração não pede? Minha mãe e a Má logo perceberam e tentaram me animar. Foi aí que resolvi dar um google em exercícios para ajudar no trabalho de parto, ajudar o bebê a descer e etc. O meu Benzinho estava muito alto e a Dra Inês, por experiência, tinha medo que eu sofresse muito durante o todo o processo e também achava que seria mais fácil controlar meu quadro de trombofilia dentro do parto programado, devido ao anticoagulante que eu aplicava de 12 em 12 horas. Meninas, prestem atenção! Trombofilia não é indicativo de cesariana, cada caso deve ser avaliado como um todo, o cuidado da minha ginecologista era em me poupar, pois a posição do Benzinho não era muito favorável.

Depois de uma breve pesquisa no Dr. Google, olhei para a Má de uma forma que ela jamais recusaria me ajudar! Afinal, são muitos anos de ciladas juntas! Hahaha! Mostrei para ela os exercícios, ela só deu a mesma risadinha dos velhos tempos e lá fomos nós! Caminhamos na pracinha, fizemos agachamentos em meio a muitas risadas e por último era um exercício meio louco, quatro apoios: cotovelo e joelhos.  Minha gente, imaginem a cena: eu, com uma barriga gigante, a cabeça enfiada no sofá, parecia mais um avestruz! E para fechar com chave de ouro, o Sr. meu marido chega e se depara com aquela cena no mínimo intrigante e já solta da porta: "Meu Deus! O que é isso? O que você tá fazendo aí?" E veio conversar comigo, de cabeça para baixo, na maior calma do mundo, ele não iria arrumar encrenca comigo, porque ele tinha certeza que eu não estava no meu estado muito normal! Hahaha! E de cabeça enfiada no sofá eu respondi, serenamente, que eu precisava ficar lá mais uns minutinhos, que depois falava com ele! No final, rimos muito, a ponto de não ligar mais se seria cesariana ou não, já tinha tido tempo para assimilar e entregar nas mãos de Deus.

Assim, as meninas foram embora e eu e o Ed fomos terminar nosso dia, deitamos e me deu um supetão, acendi a luz, peguei as coisinhas de unha no criado e comecei a fazer! Minha gente! Era mais de meia noite e só ouço o Ed apelar comigo: "Você tá doida? Isso são horas? Amanhã eu preciso trabalhar! Apaga essa luz aí!" Aí eu vi que eu estava era doida mesmo! Apaguei a luz e corri para a sala com as coisinhas e fui fazer minha unha toda bonitinha. Quando sinto um xixi diferente descendo! Vou para o banheiro e vi que não estava normal mesmo! E lá vai euzinha tomar outro xingo, lá vai eu acordar o Ed para falar que estava estranho meu xixi e ele solta: " Tá sentindo dor?" e eu respondi que não. "Então vai dormir!". Então tá, né?
Volto toda murcha para a sala e lá vem outro xixi e esse com um pouquinho de sangue, aí já estufo o peito e acordo o Ed, falo que teríamos que ir ao hospital porque tinha sangue! Ele pulou da cama, enfiamos na roupa e  fomos para o pronto atendimento.
Chegando lá, vamos para o exame de toque e o Doutor plantonista começa a rir de mim e fala que meu xixi um pouquinho diferente, tinha sido a minha bolsa que rompeu! (A lua ou o bendito exercício de avestruz? Hahaha!) E assim chegou a nossa tão esperada "grande hora"! Gente! Mãe de primeira viagem! Eu, esperando viver a novela mexicana, chão ensopado pela bolsa estourada, aquele semi desespero de: "Amor, vamos correr para o hospital! Chegou a hora!". Pô bolsa! Só um xixizinho? Me decepcionou! Hahaha!


O PARTO 

Assim o Doutor mandou pegar as malas e dar entrada na internação. Oi? Mala? Quem lembrou de mala? E lá vai o Ed correndo para casa buscar nossas malas, apreensivo por achar que iria perder o parto. Tadinho!

Minha bolsa havia estourado, mas eu não tinha uma contração. O médico me perguntou se eu gostaria de tentar o parto normal, imaginem o sim saindo antes de terminar a pergunta! Sim, claro que sim, mesmo que eu sofresse eu queria tentar, meu coração sentia, eu achava que era o melhor parto para gente. E assim foi! Colocaram o remedinho para induzir as contrações e um só foi suficiente para pegar.

relato parto normal
E a maquiagem que a gente pede "pelamordeus" para a prima emprestar, em meio as contrações? Afinal, meu filho não poderia me conhecer com cara de lagartixa, né?
 
A essa altura já tinha chegado as vovós e os vovôs, os titios, ansiosamente esperando a chegada do nosso neném! Mal sabiam eles do chá de cadeira que tomariam! Foram 17 longas horas de trabalho de parto e bastaram alguns centímetros de dilatação para que eu implorasse pela anestesia, e olha que eu sou bem durona para dor!


relato parto normal
Quando seu marido manda você sorrir com contrações? Viram que a maquiagem da prima melhorou bem a sujeita, né?

O trabalho de parto foi bem tenso, como já previa Dra Inês. Demorou muito a evoluir e a sala de visitas só enchia, já eram mais de trinta pessoas e nada do Ben nascer! Honestamente, eu nunca vi tanta gente para ver um neném nascer, nunca vi menino tão desejado! Já demorava tanto, que até as enfermeiras já estavam na torcida!
As últimas horas foram bem difíceis, não evoluía, estava muito fraca, amolecida pela anestesia e já não comia há quase 24 horas. A política do hospital era de humanizar o parto, então, o tempo inteiro tinha contato com as pessoas que eu amo e que torciam por nós. Minha mãe e minha sogra, tadinhas! Sofreram mais que eu, acho que ficaram com joelho doendo de tanto ir na capela rezar! Tia Cuca e tia Ju Mitre foram verdadeiras doulas, me ajudaram a fazer força a cada contração e seguraram muito meu emocional e não me deixaram desistir, tive bons anjos ao meu lado!
E o meu marido, gente? A coisa mais linda desse mundo! Me apoiou a cada segundo, aguentou a minha escolha, por mais que fosse difícil para ele, por mais que a ansiedade e preocupação dele aumentasse a cada segundo, por mais que todo mundo lá fora pedisse para ser feita a cesariana, ele confiou em mim! Confiou que daria certo!
Chegando próximo das 16 horas de trabalho de parto, tudo foi se complicando, oxigenação do Ben já estava tendo picos, já estávamos conversando sobre uma possível cesariana. Eu queria muito o parto normal, mas não era algo incondicional, não era nada que colocasse a vida do meu filho em risco, então confiei nos obstetras para que nos direcionasse para o caminho necessário, estaria feliz de qualquer jeito, pelo menos havia tentado! Por fim,  já não tinha forças, sem exagero, eu não conseguia mais levantar, pedia a Deus força a cada segundo, e foi aí que nasceu uma mãe! Pedi para que todos se retirassem, precisava concentrar ali, segurei a mão da Dra Jaqueline, que era a plantonista que me acompanhava naquela hora, e pedi que me ajudasse a tirar o meu filho, da forma que fosse necessária, falei que não sairia de lá nos próximos minutos sem meu filho nos braços, que eu iria ter a força que precisasse. Ela olhou nos meus olhos e falou: "Eu não vou deixar você desistir, você chegou até aqui e nós vamos ver o Benjamin nascer, mas precisamos ser rápidas! Você quer sentir seu filho? "Ela pediu que eu colocasse a mão no canal e eu pude sentir o cabelinho do Ben! Gente! Eu choro até hoje quando lembro disso, foi a sensação mais surreal da minha vida! Ela sorriu e viu que eu estava em êxtase e perguntou : "Vamos trazer o Benjamin? E despertou uma leoa dentro de mim, ela pediu ao papai lá fora que se preparasse , porque o filho dele iria nascer! Foram três forças e chegamos aos sonhados 10cm de dilatação! Fui levada às pressas para a sala de parto, quando passei pelo corredor mais cheio de amor possível, cheio de olhos aliviados porque tinha chegado a hora! Ed estava flutuando!

Na sala de parto precisava de uma última força para empurrar o benzinho e realmente meu limite físico havia chegado, era impossível, estava muito fraca! A Dra Thaís, que fez o parto, já tinha pedido o famoso F. (fórceps) para puxar o Ben, quando eu e o Ed nos olhamos e instintivamente ele passou a mão atrás das minhas costas, me levantou para que eu fizesse força, sorrisos brotavam, a enfermeira já corria feliz para chamar a família para assistir pelo vidro o nosso rebento nascendo! E surge aquele choro memorável, de arrepiar cada pelo do corpo! Sexta feira, dia 08.04.2016 às 23:29 horas : Nosso Ben nasceu! Virou festa no hospital e foi bem difícil conter a euforia das pessoas que não arredaram o pé de lá até aquela hora!

relato parto normal


Foi aí que nos tornamos mãe e pai! Nada me faz esquecer o alivio de ter meu filho nos meus braços, do meu filho estar vivo! Quem acompanhou nossa história, sabe que tive uma gravidez complicada, mas nós vencemos!

relato parto normal


Sabe o que eu aprendi com isso tudo? Que o trabalho de parto não termina quando nasce um bebê, ele recomeça a cada dia, que você tira um aprendizado dele! Então eu não tenho aqui mil motivos para você escolher esse ou aquele parto, eu não tenho aqui um faça aquilo ou não faça isso, faça seu parto com seu médico ou com plantonista, não escolha esse ou aquele hospital. Eu tenho, aqui, uma palavra amiga para você: Escute seu coração!

relato parto normal


Seu parto será lindo como tiver de ser, quando tiver que ser, com quem tiver que ser. Nós fazemos nossos planos, mas o que tem que ser, não está nas nossas mãos! Graças a Deus! Se eu mudaria algo? Não. Foi exatamente como tinha que ser, com todos os acertos e erros. Meu trabalho de parto chegou ao fim? Não. Agora, que escrevo sobre ele, vendo meu marido e meu filho dormirem, tudo ainda acontece dentro de mim. Toda vez, tenho uma percepção nova sobre ele e isso me faz crescer. Para uns, pode ser apenas um procedimento médico, para mim, foi a transformação da minha vida!

relato parto normal


Fico por aqui, desejando muita luz, estejam sempre atentos à voz do coração, encontrem o caminho de vocês!

Quer dividir sua percepção de parto com a gente? Nos escreva!


Um grande beijo,

Lalá







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