domingo, 18 de fevereiro de 2018

O que temos pra hoje é saudade!

"Somos todos visitantes desse tempo, desse lugar. 
Estamos aqui só de passagem.
 O nosso objetivo é observar, crescer, amar e servir...
E depois voltamos pra casa".

E novamente  estamos em luto: Vovô Hélio foi emprestar sua luz às estrelas do céu.  A ferida pela perda repentina do meu pai  estava  cicatrizando e, já  fomos  surpreendidos  pela partida do vovô paterno da Maria.
Na noite de despedida, Miguel, meu sobrinho e afilhado de 3 anos, me "pegou" chorando na varanda: "Dindinha, você está chorando de mentira, né?". Me perguntou mais cheio de certezas do que dúvidas. Infelizmente a Dindinha estava chorando de verdade. Abracei meu pequeno e prometi, em silêncio, ao meu sogro, que os netos não iriam, esquecê-lo. Um combinado que fiz, com minhas sobrinhas e minha filha, quando meu pai faleceu. Eu devia isso aos dois. Maria  teve e tem  os melhores  avós  do mundo. Cada um do seu jeito, deixou marcas  na memória e no coração da  minha pequena. Sou extremamente grata pelo carinho, tempo, paciência, amor e generosidade dedicados  à família.
Maria e Miguel  buscaram respostas que eu não soube dar. Pensei em ser forte, mas fui humana e fraquejei. Chorei com eles nos meus braços, pois  me vi, novamente, em um momento de extrema tristeza.
Meu sogro foi se despedindo aos poucos, estava hospitalizado, mas nem por isso, perdemos a esperança de vê-lo saudável novamente. Ele não escreveu livros, mas  teve filhos, netos, esposa  e plantou árvore, muitas árvores! Cativou  muitas pessoas em vida. Falava em metáforas, gostava de pessoas que olhavam nos olhos, cumprimentava a todos, gostava de papear, de "pitar" seu cigarro, tinha orgulho da família e do trabalho. Amou e foi amado . Deixou saudade em cada um que lhe conheceu. 
"Dudinha do ... vovô!" , dizia em alto e bom som. Misturava histórias  só para que Duda dissesse que estava trocando tudo. Os dois se divertiam com a confusão do vovô. Provavelmente, por isso, ela goste tanto do livro "Uma história atrapalhada", de Gianni Rodari. Uma história de um vovô que não sabe contar histórias e deixa a netinha e os leitores  rindo de suas confusões com o clássico "Chapeuzinho Vermelho."  E é assim que queremos nos lembrar dele: com alegria, com sabedoria, sem dor e sofrimento.
Sabe.... a morte é a única certeza que temos na vida, mas nunca estamos preparados para uma despedida tão longa. É doloroso, sofrido... Sempre ficam mais perguntas que respostas. E diante do que deveria ser natural, nos tornamos frágeis, queremos colo, braços, mãos... É fato que nunca estamos preparados para a morte, principalmente se tratando de um dos nossos pais. É uma grande adversidade que dificilmente superamos completamente. Mesmo sendo o destino de todos, a morte é uma grande incógnita. Não estamos preparados para um despedida tão longa. Somos egoístas e não queremos ir embora dessa grande festa que é a vida, mas um dia temos que partir.
Para as crianças, falamos que o vovô virou um estrelinha e que toda noite ele nos observa e ilumina todos os dias. Maria compreende melhor e dedica mais tempo e carinho à avó. Miguel sente muito a falta do avô, ás vezes faz perguntas, quer saber onde ele está. Nessas horas passa um filme na cabeça da gente: tantos momentos juntos, mas tantas coisas que queríamos planejar e viver... tantos abraços, beijos e palavras que deveriam ter sido dados, mas a vida não é feita de "se". Ela é urgente, presente.... feita de "agora" e também de saudade  do que foi, do poderia ter sido.

 E como disse Cora Coralina :
Não sei se a vida é curta ou longa para nós,
mas sei que nada do que vivemos tem sentido,
se não tocarmos o coração das pessoas.

Muitas vezes basta ser: colo que acolhe,
braço que envolve, palavra que conforta,
silencio que respeita, alegria que contagia,
lágrima que corre, olhar que acaricia,
desejo que sacia, amor que promove.

E isso não é coisa de outro mundo,
é o que dá sentido à vida.
É o que faz com que ela não seja nem curta,
nem longa demais, mas que seja intensa,

verdadeira, pura enquanto durar.

#luto #despedidas #família

Miguel,Maria Eduarda e vovô

Ainda, fica, na garganta, um grito contido. Nos olhos, lágrimas teimam em não parar de rolar. Tudo agora é silêncio e saudade. Não cabe culpa para esse momento, mas gratidão, perdão e amor.  E  vamos nos fortalecendo, juntos, em família, dia após dia. Em cada irmão, vemos o amor dos pais materializado e em nossa personalidade o que aprendemos e levamos  para a vida. Carpe diem!



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