Você não tem vontade de ter outro? É de longe uma das perguntas mais ouvidas por mães de filho único. É aquela velha história...
Está solteira? Cadê os namoradinhos?
Está namorando? E o casório?
Casou? E os filhos?
Não vai casar? Que tristeza para a família!
Não vai ter filhos? Que horror! Você não gosta de criança? Toda mulher tem que ter pelo menos um filho.
Filho único? Você não tem vontade de ter outro? Coitado! Ficará muito sozinho! Terá problemas de relacionamento! Será mimado! O rei da casa!
Dois filhos? Está ótimo! Dá para rir e chorar, mas hoje em dia para ter dois tem que trabalhar muito ou ficar em casa para cuidar e economizar com escola ou babá.
Três filhos? Não sei como dá conta! Criar um filho é tão caro, imagina três!
Quatro filhos??? Mas foi tudo planejado?
Ou seja, seremos sempre julgadas, sempre questionadas, sempre colocadas na posição de "tem certeza das suas escolhas?".
Eu costumava ser a garota que queria ter uns 5 filhos, que listava os nomes na última página do caderno, mas que não pensava em ficar em casa cuidando das crianças. Sempre consegui imaginar um mundo onde continuasse a percorrer meus sonhos, que sempre incluíram alta qualificação profissional e trabalho fora, e, ainda assim, ter uma família grande, uma casa cheia de crianças.
Em algum momento da caminhada, que nem sei precisar quando, esse pensamento foi distorcido para um dos lados e a lista de nomes para filhos acabou no lixo.
Não que eu não ame a maternidade. Meu filho é aquele ingrediente secreto da receita, é a minha arma mais poderosa para enfrentar os desafios da vida, porque ele é a minha força, todos os dias! Aquele pedaço de amor, cor e flor. Fonte de energia inesgotável. O amor de mãe e filho é o sentimento mais forte e verdadeiro que conheço, mas...
Ouvi isso numa palestra da Cris Guerra e nunca mais saiu da minha cabeça, porque faz tanto sentido na minha vida. Preciso de mil coisas além da maternidade, entre elas aquela "alta qualificação e trabalho fora" que faziam parte do sonho de menina.
Admiro quem consegue fazer da maternidade seu empreendimento, descobrir nela uma forma de ganhar a vida, fazer o que gosta e ficar mais perto dos filhos, mas, definitivamente, não é meu perfil.
Cadê aquele botão do automático que a vida inteira o mundo fez eu acreditar que existia? Aquela maternidade embutida, aquele cuidar que já vem de fábrica? Talvez eu seja um Frankenstein nessa história, utópica para mim.
Que fique claro: amo a maternidade, amo meu filho, faço tudo para educar uma boa criança e ser uma boa mãe, mas não penso em ter mais filhos porque acredito que não tenho o perfil de mãe de dois, três, quatro...
Tenho irmãos! Amo meus irmãos e nunca imaginei uma história de vida sem eles. Quando lembro das nossas aventuras, das nossas brigas, das nossas travessuras e castigos, lembro de quem fui e quem sou. De alguma forma, eles fazem com que eu não esqueça da minha história de vida. Eles são a ponte que liga tudo que vivi e tudo que tenho e sou. Irmãos são importantes!
Então, tenha quantos filhos quiser! Tenho certeza que seus filhos serão muito felizes por terem irmãos, mesmo que só reconheçam isso depois de grandinhos, mas aceite se uma mulher não quiser ter filhos ou quiser ter um só. Cada uma deve entender seu perfil e papel no mundo. Somos livres!
Tenho sonhos, corro atrás deles e acredito que a maternidade não pode, não para mim, ser a senhora dos meus sonhos. E isso não quer dizer que eu anulo meu filho, quer dizer que ele está nos meus sonhos, mas sou eu a protagonista da minha história e não ele. Ele é protagonista da história dele, por isso também tento não ser aquela mãe que diz "você será isso" ou "você fará aquilo quando crescer". Cada um tem o direito de ser o que quiser e é muito triste ser obrigado a perder sonhos de uma vida inteira por causa de alguém.
Quando anunciei minha gestação, uma das coisas que mais ouvi foi "e os estudos?". Estava cursando a graduação na época. Confesso que nunca entendi o teor da pergunta porque para mim sempre foi muito óbvio que uma coisa nada tinha a ver com a outra.
Que mania o povo tem de achar que a maternidade tem que anular tudo em uma mãe.
Ah, mas eu tenho a mania de não importar para o que os outros vão pensar. Prestei novo vestibular com umas 35 semanas de gestação, fiz segunda fase de vestibular amamentando um recém nascido. Mudei de curso de graduação! Comecei o novo quando meu filho completava 3 meses de vida. Deixava o leite e costuma sair no meio da aula para trocar o absorvente de seios. Estudei noite após noite com ele nos braços e depois, quando maior, entre as pernas, mas não desisti daquele sonho.
Também conheci muitas mães como eu durante essa caminhada. Mães que também tinham o sonho da faculdade, que também trabalhavam e estudavam. Assistiam aulas cansadas, preocupadas, faziam aquela ligação no intervalo para saber como estavam seus dois ou três filhos. E sabe o que mais preocupava? Era ouvir elas dizerem que seus companheiros e/ou pais de seus filhos não achavam certo elas estudarem; era ouvir elas dizerem que estavam brigados porque, quando chegavam da aula, as crianças estavam sem banho, sem deveres da escola feitos ou mesmo com fome. Mas a boa notícia é que elas conseguiram, algumas com um pouco mais de tempo, mas TODAS conseguiram e eu também!
Que mania o povo tem de achar que a maternidade tem que anular tudo em uma mãe.
Ah, mas eu tenho a mania de não importar para o que os outros vão pensar. Prestei novo vestibular com umas 35 semanas de gestação, fiz segunda fase de vestibular amamentando um recém nascido. Mudei de curso de graduação! Comecei o novo quando meu filho completava 3 meses de vida. Deixava o leite e costuma sair no meio da aula para trocar o absorvente de seios. Estudei noite após noite com ele nos braços e depois, quando maior, entre as pernas, mas não desisti daquele sonho.
Também conheci muitas mães como eu durante essa caminhada. Mães que também tinham o sonho da faculdade, que também trabalhavam e estudavam. Assistiam aulas cansadas, preocupadas, faziam aquela ligação no intervalo para saber como estavam seus dois ou três filhos. E sabe o que mais preocupava? Era ouvir elas dizerem que seus companheiros e/ou pais de seus filhos não achavam certo elas estudarem; era ouvir elas dizerem que estavam brigados porque, quando chegavam da aula, as crianças estavam sem banho, sem deveres da escola feitos ou mesmo com fome. Mas a boa notícia é que elas conseguiram, algumas com um pouco mais de tempo, mas TODAS conseguiram e eu também!
Eu estava ausente de certa forma? Sim! Mas muito presente quando estava fisicamente. E não era porque eu tinha muitos braços para auxiliar. Não mesmo! Coloquei ele na escolinha e não deixei que ficasse com os avós, porque eles também tinham os planos de vida deles e eu não tinha o direito de dificultá-los. Mas o pai fez seu papel de pai, assumindo a sua parte do cuidado para que eu continuasse a minha vida, meus estudos, meus trabalhos, meus sonhos.
É fato que isso não é uma realidade para muitas mulheres e, por isso, muitas desistem de algumas coisas (ou muitas) pelos filhos, porque eles talvez só tenham essas mães para a tarefa do cuidar, porque muitos pais não entendem o sentido dessas coisas e acham que a maternidade é tudo que uma mãe deve ter, porque muitos pais (e não só eles) têm uma ideia muito primitiva de paternidade, porque muitas família e amigos esquecem que podem fazer algo por essa mãe, esquecem que ela também é uma vida e que pode não querer viver exclusivamente para a maternidade.
Por tudo isso eu entendo quem não quer ter filhos e quem não quer ter mais um filho. Talvez porque é difícil tocar sua vida com crianças quando não existe uma rede de apoio, quando não existem recursos materiais e imateriais que facilitem essa criação, quando o mercado de trabalho exige saber da sua vida sexual, se "você pretende ter filhos?" e sua resposta influencia suas opções profissionais.
Será que sou egoísta por "pensar em mim" e não no meu filho, o "coitadinho" que fará 7 anos e ainda não tem o irmão/irmã mais novo(a) para brincar? Não penso assim! Gosto de pensar que estou presente para ele e de uma forma que meus pais, por exemplo, não estavam, então ainda bem que meus irmãos estavam lá para fazerem companhia.
Nossas oportunidades são outras e tentamos aproveitar juntos. Vamos ao teatro, cinema, parques, festas... Brincamos! Inventamos fantasias e andamos fantasiados pelas ruas. Os trabalhos da escola são sempre cheios de brilho, porque amamos criar juntos. Fazemos receitas na cozinha e dançamos ao som do liquidificador. Lemos livros, inventamos histórias. Conversamos sobre tudo, falamos a verdade um com outro e essa é a nossa lei. Somos parceiros!
Ele tem seus amigos, da escola e fora dela, claro! Criança tem que brincar com criança! Mas os pais também podem ser bons amigos de seus filhos e, mesmo que passem umas horas do dia distantes, podem fazer das suas horas juntos o instante que preenche o "vazio" de não ter irmãos.
E isso tudo não quer dizer que eu nunca mais terei filhos. Mudamos com o tempo, com as experiências da vida. Quem sabe um dia? Por enquanto, sou feliz com meu filho único e acho que ele é muito feliz mesmo sem um irmão. Então, que mal tem em amar e cuidar do único filho que se tem, sem causar mal a ninguém?
Sejamos livres para fazermos nossas próprias escolhas!
Nossa! Texto perfeito!
ResponderExcluirObrigada =)
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