Feminismo e Casamento

O "casamento real" de Henry Charles (mais conhecido como príncipe Harry) e Meghan Markle foi notícia no mundo inteiro e o assunto dominou as redes por N motivações diferentes (o vestido, a maquiagem simples dela, as músicas...).

O que chamou minha atenção, no entanto, foram os muitos comentários que surgiram do tipo:

"Feminista? Mas usa vestido de noiva?"

"Feminista? Mas entra na igreja?" 

"Feminista? Mas casou com um homem?"

"Feminista? Mas vai ter filhos?"

E tantos outros no mesmo sentido!

Não conheço muito os dois, não acompanho, não sei da vida deles! Mas ouvi dizer que Meghan é declaradamente feminista e, por causa disso, muito provavelmente, deve ter incitado esses comentários nas redes. Não entrarei no mérito do casamento, da monarquia, da cobertura midiática, do tal casamento que passa longe da realidade de muitos casais, da união (amor) dos dois ou do feminismo de Meghan, mas preciso falar sobre feminismo e casamento.

Divulgação: Kensigton Palace

Vejo, diariamente, como as pessoas julgam mal o feminismo (e as feministas). Acredito que, na maior parte, por desconhecimento do que seja. 

Muita gente acha que, enquanto o machismo promove a ideia e o comportamento de que os homens estão em superioridade frente às mulheres, o feminismo seria o contraposto: a ideia de que mulheres são superiores e/ou melhores do que os homens e que, por isso, devem tomar o poder do mundo, fazer homens de escravos e relacionarem apenas entre si. Quando, na verdade, o feminismo busca o empoderamento feminino, a igualdade de gênero, direitos iguais para todos, liberdade para as mulheres fazerem suas escolhas e serem donas da sua própria vida. 

Ah, mas as mulheres já votam, já trabalham... E a violência de gênero? Os estupros? O feminicídio? O assédio? A diferença de salário quando ocupam o mesmo cargo que homens? E o mercado de trabalho que prefere homens porque mulheres engravidam? E as mil funções que mulheres têm que assumir porque "isso é tarefa de mulher e aquilo é tarefa de homem"? 

A lista de desigualdades de gênero que ainda fazem a luta feminista muito necessária é imensa.

E o feminismo não luta apenas pelos direitos daquelas nascidas sob o sexo feminino.

Se você quer saber mais, o feminismo é um movimento social e político que tem muitas abordagens e muitos nomes de referência, que vão desde alguns séculos passados (como Mary Wollstonecraft e a conhecida Simone de Beavouir) até filósofas contemporâneas (como Judith Butler). Poderia passar o resto da vida tentando compartilhar tudo, mas vamos à reflexão que interessa aqui...

Muitas pessoas acham que feministas são contra ter uma família, contra ter um marido, contra ter filhos, contra casamento, contra usar vestido de noiva... Como essas pessoas que fizeram esses comentários sobre a Meghan. 

Não! Não é nada disso! Feminismo é sobre liberdade de escolha, sobre ter acesso à informação (sem assimetria) e à oportunidade, ter o direito à opinião e poder decidir. Sobre empoderamento!

É sobre se a mulher quiser casar, case! Se quiser separar, separe! Se não quiser ter filhos, não tenha! Se quiser ter filhos, tenha! Se quer ter um companheiro, tenha! Se quer ter uma companheira, tenha! Quer ter uma religião, tenha! Não quer, não tenha! Quer casar com vestido branco, longo, tampando o rosto, case! Quer casar no meio da floresta, de calça e bota, case! Não quer casar, mas "juntar", junte! Quer ficar sozinha, fique sozinha! Quer ficar com todos, fique com todos! Quer depilar, depile! Não quer, não depile!

É sobre ser livre! É sobre ser respeitada em sua individualidade e em suas escolhas. Sobre ser dona da própria vida. Sobre não ser julgada, massacrada, assassinada por ser "diferente" do "tradicional", por "fugir ao padrão", por não atender às expectativas sociais. Mas é também sobre ser livre e independente para escolher (e não ser obrigada ou limitada com oportunidades diferentes) se casar, ter filhos, ser "do lar"... 

Então, escolher casar com um homem, numa igreja e com vestido de noiva não faz uma mulher que se diz feminista uma "falsa feminista". Pelo contrário! Favoravelmente aponta para o conhecimento que essa mulher tem sobre o movimento que defende. Também já demonstra o quanto ela tem que lutar para não atender às expectativas sociais, porque até as feministas têm seu lugar bem definido pela sociedade patriarcal: sozinha, não pode casar, não pode entrar na igreja e não pode usar vestido branco longo...

E adivinha? Muitas feministas têm religião e/ou frequentam igrejas e/ou outros espaços de crença. Resume-se ao livre-arbítrio. 

De uma coisa eu tenho certeza: relacionamentos com pessoas de posicionamentos e comportamentos divergentes costumam não dar certo. Muito provável, então, que o marido de uma feminista compartilhe (talvez até muito) do pensamento feminista. Sim! Existem muitos homens feministas!

É verdade que esse ideário feminista está longe de ser realidade em várias parte do globo, mas é por isso que a luta continua!

Sejamos reflexivos!

Lugar de mulher é onde ela quiser estar!