segunda-feira, 27 de julho de 2020

Espalhando esperança


Uma leitora nos procurou com um propósito especial: "estive pensando em escrever sobre isso pois, devido à pandemia, os tratamentos foram cancelados e tenho visto tantos comentários tristes em relação ao sonho da maternidade, que gostaria mesmo de contribuir pra que essas pessoas se sentissem acolhidas."



Achei a iniciativa tão linda!!!!
Então, vem comigo se emocionar com este texto:

   "O sonho da maternidade sempre esteve presente em minha vida desde pequena. 
   Antes do casamento,  tanto meu marido quanto eu planejávamos ter 2 filhos. Pensamos que após a minha formatura, quando completaríamos 1 ano de casados, já tentaríamos. E assim fizemos! Fiz exames, mudei a alimentação, iniciei ácido fólico e  todos os protocolos de uma tentante. 
   Passados alguns meses de tentativas frustradas, fui novamente à saga de exames e médicos e nada relatava o impedimento. Até que enfim encontrei um médico que questionou sobre os exames do meu marido.  E, em apenas um exame dele, a nossa dificuldade de gravidez foi confirmada. 
   Sobre isso, deixo minha experiência para os casais se atentarem à saúde do homem. Infelizmente não temos essa cultura no país de investigar primeiro o homem em casos de infertilidade, feito em um único exame em detrimento de vários e desconfortáveis exames para a mulher. 
   Passamos por várias etapas de tratamento, muitos médicos e muitas dúvidas que nos levaram enfim a inseminação artificial. 
   No início um medo e até um certo preconceito, pois romantizamos a maternidade de tal forma que na minha cabeça só passava como eu tinha planejado conceber numa relação um filho.
   De uma inseminação que não se positivou, fomos indicados a fazer a fiv (fertilização in vitro). Uma rotina de exames,  ciclos cancelados mesmo após a medicação, até que consegui fazer a coleta de óvulos e a tão sonhada transferência. 
   Desde o dia da punção de óvulos, quando foi feita a fecundação, cresceu um sentimento inexplicável. Cada dia que recebíamos a ligação da embriologista contando quantos embriões haviam passado dos cruciais estágios iniciais, nós comemorávamos. Não tinham muitos óvulos e a fiv é um verdadeiro funil a cada etapa. 
   No dia da transferência foi muito emocionante: vimos um vídeo de todo o processo da fecundação e dos primeiros 5 dias de vida do nosso embrião. Choramos de tamanha felicidade. Saí da clínica com uma sensação de completude tão grande que não tinha dúvidas que em 9 dias eu estaria com o resultado positivo em mãos.  E assim foi. 
   Fui dar uma espiada antes do horário previsto para a entrega do resultado e todo o planejamento que tinha de fazer uma surpresa para o meu marido foi deixado de lado pela emoção de ver o tão sonhado positivo. Foi uma sensação de pés fora do chão. Meus pais  são do interior e estavam em BH para novo ciclo de quimio do meu pai. Então, aproveitamos e contamos para eles. Foi muita alegria para toda a família. 
   Fiz novos exames para verificar a evolução e estava tudo ok.  Iniciei as consultas com obstetra e fiz o ultrassom. Confirmei novamente a gravidez. Contudo fiquei aflita ao ver que o saco gestacional parecia menor que o previsto. E aí fiquei uma semana vivendo o medo da perda, de ter outros problemas e a culpa por ter ganhado tanto peso durante o tratamento. Chorava e rezava sempre, continuava a cantar para meu filho tanto desejado. Até que em uma consulta na clínica descobri que houve um erro no ultrassom e estava com uma gravidez tubária. Lá estava um coração batendo a 164 bpm, com as semanas certas, mas em um lugar que não podia ser gerado. 
   Com a roupa do corpo saí para hospital e fui submetida a uma cesária de emergência. 
   A perda foi muito dolorosa, inexplicável, ainda recente. Contudo escrevo esse relato com um propósito de que as mamães de anjo sintam-se também acolhidas pela mamães sortudas e tenham fé de que por traz de toda lágrima há Deus que cuida de nós nos detalhes. 
   Já escutei muitos relatos de que "nasce uma mãe,  nasce uma culpa" e não há culpa alguma em ser mãe.  
   Meu marido e eu sempre falamos do nosso filho. Fiquei conversando com ele que podíamos dar um nome que fosse tanto feminino quanto masculino,  pois optamos em não fazer biópsia para saber qual sexo era. E no fim não chegamos a nenhum nome.  
   Na data prevista para o nascimento pedi minha mãe para plantar uma árvore na porta da minha casa no interior. Como moro em apartamento e com pouco sol, achamos melhor que fosse plantada lá. Minha mãe plantou, enviou a foto da árvore escreveu a mensagem  "_ e vai se chamar Esperança ". 
   Foi um momento muito emocionante e ter essa experiência me ajudou a pensar no papel de cada uma de todas as mães "filho é para o mundo", quem nunca ouviu isso. Devolvi à natureza o presente que ela nos deu, mesmo tendo vivenciado tão brevemente  a gravidez.  
   Passei um período para recuperar e iniciar novo tratamento,  contudo devido à pandemia os tratamentos foram cancelados e retomados apenas casos muito específicos. 
   Acompanhando alguns comentários vi muitas pessoas deprimidas, com expectativas frustradas em relação ao sonho da maternidade.  
   O que eu quero dizer pra você que passa pela situação seja de um tratamento adiado ou de outros planos adiados é que você sairá dessa situação muito mais forte e que sempre haverá a "Esperança" de dias melhores. Acredite!"

Por: Cassiane Baracho


A Cassiane me enviou também, com a foto da árvore:
"A árvore é  poinsétia (bico de papagaio). Usada no Natal, floresce naturalmente no nosso inverno, lá por junho ou julho. E, se deixada crescer livremente, torna-se um arbusto grande, de 3 a 4 metros de altura. Suas partes vermelhas vistosas, por sinal, nem podem ser chamadas de flores: elas são, na verdade, folhas diferenciadas – daí o fato de serem tão duradouras. Na ponta de cada ramo é que se encontram as flores propriamente ditas. Embora minúsculas e acanhadas, elas são valiosas para atrair borboletas e beija-flores."


Nunca percam a fé!

Beijo grande,


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