Boa noite meu amor! Essa noite você vai dormir mais tranquilo? Na noite passada você deu trabalho porque ficou com saudades da vovó? Ela precisa ir na casa dela de vez em quando cuidar da tia Lu e do vovô também, nós não podemos ser egoístas!
Você sabe porque a vovó está ficando aqui com a gente direto? Vou te contar...
A mamãe começou a fazer quimioterapia, fez a primeira no dia 15/06/18, era uma medicação vermelha e muito forte, dizem que pode dar muitos efeitos colaterais e a primeira semana é a mais complicada.
A mamãe sentiu um pouco de enjoo, braços e pernas pesados e também faz os cabelos caírem, o da mamãe começou a cair com 13 dias.
Essa quimioterapia também pode fazer a imunidade baixar e a única recomendação do médico foi:
- "A única coisa que ela não pode ter é febre acima de 37.8°, se isso acontecer, venha com ela imediatamente para o hospital."
Mais ou menos 10 dias depois da quimioterapia comecei a ter calafrios e ao medir a temperatura:, 38.0°. Fomos para o pronto socorro e precisei ser internada, era uma terça feira e só podia ter alta se a medula respondesse bem e a imunidade voltasse ao normal. Para isso acontecer não podia mais ter febre e então decidi que a febre não ia voltar e a medula ia responder direitinho. No dia seguinte, sem medicação para estimular, a medula já estava respondendo e o tio Enaldo receitou uma medicação para estimular e responder mais rápido. Foi ótimo!
A oncologia deu alta na quinta feira, mas ainda faltava a clínica que não deu alta porque apareceu uma bactéria no meu sangue e ainda faltava saber qual antibiótico a bactéria era sensível e se tinha oral.
A mamãe precisava receber alta até sexta a noite porque no sábado era aniversário de 90 anos do vovô e eu precisava ficar com você para a vovó e a tia Míriam poderem ir a festa. Como o vovô ainda não sabia de nada, também era muito importante nós dois irmos lá tirar foto com ele.
Todos do hospital sabiam da situação e estava todo mundo aflito. Eu e seu pai não paramos em nenhum momento de pedir a Deus e a Nossa Senhora para dar tudo certo. Na sexta a tarde a médica entra no quarto e fala:
- "Seu santo é muito forte, a bactéria é sensível a medicação oral, você vai receber alta."
- "Meu santo é forte e Deus não falha!"
No sábado, chegamos a festa e a mamãe começou a subir a escada com você no colo, foi quase impossível segurar o choro, eu só pensava: Obrigada meu Deus, obrigada por permitir que nós viessemos aqui hoje, obrigada meu Deus...
Chegamos ao pé da escada e láaaa na frente estava a família tirando fotos, não vi direito quem estava lá, só vi a tia Nenha vindo na nossa direção com o olho cheio d'água e falei:
- "Não chora!"
Ela começa a chorar, me abraçou e falou:
- "Maria Cláudia, que alegria te ver!"
Pronto! Era tudo que a mamãe precisava para começar a chorar!
Lembro da vovó falando que não era para chorar, porque o vovô ia ver! Lembro que a tia Míriam Magalhães apareceu do nada, deu uma apertada no meu ombro e falou soprando meus olhos:
- "Maria Cláudia, olha pra mim! Está tudo bem! Você está me ouvindo?"
- "Estou!"
- "Está tudo bem!"
Engoli o choro e virei de costas dando de cara com o vovô que abriu um sorrisão e veio abraçar a gente.
A tia Bruna que estava fazendo as fotos pegou o momento exato do encontro.
As outras fotos foram uma bagunça danada e muito legal. O vovô estava muito feliz mesmo.
Depois das fotos fomos embora porque você ainda é muito pequeno para participar de uma festa dessa e o fato da mamãe ter recebido alta para estar em casa com você, foi a senha para a família inteira aproveitar a festa.
Em relação a nós? Nós estamos aqui contando os dias para o aniversário de 100 anos, até porque já me garantiram que a festa de 100 vai ser bem melhor que a de 90.