Era um dia qualquer, uma aula comum. Língua portuguesa. Não me lembro exatamente se ensinava gramática ou interpretação de texto, assim como não me lembro de como aquela polêmica surgiu. Sei que discutíamos um assunto totalmente diferente daquele que, de repente, acabou tomando quase a totalidade dos meus 50 minutos de aula naquela turma.
Alguém levantou a mão e perguntou a diferença entre "homossexualismo" e "homossexualidade". Expliquei. E antes mesmo que eu pudesse piscar, a sala se transformou num tribunal maluco, onde adolescentes gritavam uns para os outros as suas opiniões pouco refletidas sobre homossexualidade. Uma discussão entre duas meninas, logo ali do meu lado, me chamou a atenção.
- Ser homossexual não é vergonha!
- É vergonha sim!
Eu precisava retomar o silêncio da sala. Eu precisava retomar o controle da aula. Eu precisava voltar a fazer o que estávamos fazendo. Era importante, a prova estava chegando. Mas naquele momento, não consegui. Naquele momento, senti que precisava fazer algo. Eu precisava intervir. Eu não podia ficar parada.
"Eu sou professora deles. Eu não posso deixar que eles cresçam com essa mentalidade. Eu odiaria ser a professora que só os faz decorar as conjugações verbais de todos os tempos do modo indicativo. Eu tenho que prestar pra alguma coisa além disso".
E assim, sem nem pensar duas vezes, saiu pela minha boca:
- Vergonha é o seu preconceito.
A sala se calou. De repente, tinha em minhas mãos todo o silêncio e a atenção que precisava para continuar a aula. Mas eu sabia que aquele silêncio não pedia a continuação da matéria. E não tive como ignorar aquilo.
O restante da aula foi uma verdadeira bofetada no estômago da família tradicional. Da maneira mais adequada que consegui, conversei longamente com os alunos sobre identidade de gênero, conceitos de família e por aí vai. E nunca, em toda a minha vida, tive tanta atenção da turma. Vi, naquela aula, a oportunidade de fazer algo mais por aquelas crianças.
Foi assim que surgiu um projeto de leitura.
Aproveitando o tema da adoção, tratado de modo superficial pelo livro paradidático adotado pela escola, fiz mágica para enxugar o conteúdo e preparei uma série de aulas para falar não só sobre a adoção, mas também sobre o conceito de família. Reportagens, curtas-metragens, textos informativos. O que eu queria era conscientizar.
E foi emocionante. Foi lindo ver como os meus meninos e meninas desabrocharam. Foi lindo ver como eles têm uma capacidade incrível de entender, de absorver, de mudar conceitos. Foi lindo ver como, de repente, todos eles (sim, todos eles) levantaram a bandeira de que "família é onde existe amor".
Deixo aqui para vocês um trechinho lindo de um texto de prova que corrigi ainda hoje, e que me fez sentir que tudo valeu a pena:
"Ele encheu o peito de ar e pediu para falar. E explicou para toda a sua turma que sua família era sim diferente, com dois pais e dois filhos adotivos, mas ainda uma família, com muito amor e carinho".
O Brasil é campeão mundial de crimes por homofobia. E este é um dado que não se pode ignorar. Precisamos, mais do que nunca, educar nossas crianças para o amor, para o respeito, para a tolerância, para a empatia. A minha sensação é de dever cumprido. Vivi para ver os meus pequenos, ainda tão jovens, desenvolverem esses sentimentos tão importantes para o convívio em sociedade.
Mas e você? O que você tem feito para lutar contra a homofobia na sua casa?
Vamos fazer da geração dos nossos filhos uma geração mais humana?
- Ser homossexual não é vergonha!
- É vergonha sim!
Eu precisava retomar o silêncio da sala. Eu precisava retomar o controle da aula. Eu precisava voltar a fazer o que estávamos fazendo. Era importante, a prova estava chegando. Mas naquele momento, não consegui. Naquele momento, senti que precisava fazer algo. Eu precisava intervir. Eu não podia ficar parada.
"Eu sou professora deles. Eu não posso deixar que eles cresçam com essa mentalidade. Eu odiaria ser a professora que só os faz decorar as conjugações verbais de todos os tempos do modo indicativo. Eu tenho que prestar pra alguma coisa além disso".
E assim, sem nem pensar duas vezes, saiu pela minha boca:
- Vergonha é o seu preconceito.
A sala se calou. De repente, tinha em minhas mãos todo o silêncio e a atenção que precisava para continuar a aula. Mas eu sabia que aquele silêncio não pedia a continuação da matéria. E não tive como ignorar aquilo.
O restante da aula foi uma verdadeira bofetada no estômago da família tradicional. Da maneira mais adequada que consegui, conversei longamente com os alunos sobre identidade de gênero, conceitos de família e por aí vai. E nunca, em toda a minha vida, tive tanta atenção da turma. Vi, naquela aula, a oportunidade de fazer algo mais por aquelas crianças.
Foi assim que surgiu um projeto de leitura.
Aproveitando o tema da adoção, tratado de modo superficial pelo livro paradidático adotado pela escola, fiz mágica para enxugar o conteúdo e preparei uma série de aulas para falar não só sobre a adoção, mas também sobre o conceito de família. Reportagens, curtas-metragens, textos informativos. O que eu queria era conscientizar.
E foi emocionante. Foi lindo ver como os meus meninos e meninas desabrocharam. Foi lindo ver como eles têm uma capacidade incrível de entender, de absorver, de mudar conceitos. Foi lindo ver como, de repente, todos eles (sim, todos eles) levantaram a bandeira de que "família é onde existe amor".
Deixo aqui para vocês um trechinho lindo de um texto de prova que corrigi ainda hoje, e que me fez sentir que tudo valeu a pena:
"Ele encheu o peito de ar e pediu para falar. E explicou para toda a sua turma que sua família era sim diferente, com dois pais e dois filhos adotivos, mas ainda uma família, com muito amor e carinho".
O Brasil é campeão mundial de crimes por homofobia. E este é um dado que não se pode ignorar. Precisamos, mais do que nunca, educar nossas crianças para o amor, para o respeito, para a tolerância, para a empatia. A minha sensação é de dever cumprido. Vivi para ver os meus pequenos, ainda tão jovens, desenvolverem esses sentimentos tão importantes para o convívio em sociedade.
Mas e você? O que você tem feito para lutar contra a homofobia na sua casa?
Vamos fazer da geração dos nossos filhos uma geração mais humana?
Fonte: Superpride
G.