"Somos todos visitantes desse tempo, desse lugar.
Estamos aqui só de
passagem.
O nosso objetivo é observar, crescer, amar e servir...
E depois voltamos pra casa".
E depois voltamos pra casa".
E novamente estamos em luto: Vovô Hélio foi emprestar sua luz às estrelas do céu. A ferida pela perda repentina do meu pai estava cicatrizando e, já fomos surpreendidos pela partida do vovô paterno da Maria.
Na noite de despedida, Miguel, meu sobrinho e afilhado de 3 anos, me "pegou" chorando na varanda: "Dindinha, você está chorando de mentira, né?". Me perguntou mais cheio de certezas do que dúvidas. Infelizmente a Dindinha estava chorando de verdade. Abracei meu pequeno e prometi, em silêncio, ao meu sogro, que os netos não iriam, esquecê-lo. Um combinado que fiz, com minhas sobrinhas e minha filha, quando meu pai faleceu. Eu devia isso aos dois. Maria teve e tem os melhores avós do mundo. Cada um do seu jeito, deixou marcas na memória e no coração da minha pequena. Sou extremamente grata pelo carinho, tempo, paciência, amor e generosidade dedicados à família.
Maria e Miguel buscaram respostas que eu não soube dar. Pensei em
ser forte, mas fui humana e fraquejei. Chorei com eles nos meus braços,
pois me vi, novamente, em um momento de extrema tristeza.
Meu
sogro foi se despedindo aos poucos, estava hospitalizado, mas nem por
isso, perdemos a esperança de vê-lo saudável novamente. Ele não
escreveu livros, mas teve filhos, netos, esposa e plantou árvore,
muitas árvores! Cativou muitas pessoas em vida. Falava em metáforas,
gostava de pessoas que olhavam nos olhos, cumprimentava a todos, gostava
de papear, de "pitar" seu cigarro, tinha orgulho da família e do
trabalho. Amou e foi amado . Deixou saudade em cada um que lhe conheceu.
"Dudinha do ... vovô!" , dizia em alto e bom som. Misturava histórias só
para que Duda dissesse que estava trocando tudo. Os dois se divertiam
com a confusão do vovô. Provavelmente, por isso, ela goste tanto do
livro "Uma história atrapalhada", de Gianni Rodari. Uma história de um
vovô que não sabe contar histórias e deixa a netinha e os leitores
rindo de suas confusões com o clássico "Chapeuzinho Vermelho." E é
assim que queremos nos lembrar dele: com alegria, com sabedoria, sem
dor e sofrimento.
Sabe.... a morte é a única certeza que temos na vida, mas nunca estamos preparados para uma despedida tão longa. É doloroso, sofrido... Sempre ficam mais perguntas que respostas. E diante do que deveria ser natural, nos tornamos frágeis, queremos colo, braços, mãos... É fato que nunca estamos preparados para a morte, principalmente se tratando de um dos nossos pais. É uma grande adversidade que
dificilmente superamos completamente. Mesmo sendo o destino de todos, a
morte é uma grande incógnita. Não estamos preparados para um despedida
tão longa. Somos egoístas e não queremos ir embora dessa grande festa
que é a vida, mas um dia temos que partir.
Para as crianças, falamos que o vovô virou um estrelinha e que toda noite ele nos observa e ilumina todos os dias. Maria compreende melhor e dedica mais tempo e carinho à avó. Miguel sente muito a falta do avô, ás vezes faz perguntas, quer saber onde ele está. Nessas horas passa um filme na cabeça da gente: tantos momentos juntos, mas tantas
coisas que queríamos planejar e viver... tantos abraços, beijos e
palavras que deveriam ter sido dados, mas a vida não é feita de "se".
Ela é urgente, presente.... feita de "agora" e também de saudade do que
foi, do poderia ter sido.
E como disse Cora Coralina :
Não sei se a vida é curta ou longa para nós,
mas sei que nada do que vivemos tem sentido,
se não tocarmos o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser: colo que acolhe,
braço que envolve, palavra que conforta,
silencio que respeita, alegria que contagia,
lágrima que corre, olhar que acaricia,
desejo que sacia, amor que promove.
E isso não é coisa de outro mundo,
é o que dá sentido à vida.
É o que faz com que ela não seja nem curta,
nem longa demais, mas que seja intensa,
verdadeira, pura enquanto durar.
Miguel,Maria Eduarda e vovô |