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segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Patria Armada Brasil e os nossos filhos?


"Sempre me lamentarei por não ter tido mais tempo com você, meu filho"

Você já imaginou lamentar pelo tempo que não teve com seu (s) filho (s)? E quando perdemos para um tiro disparado acidentalmente?

É com esse título que começo o meu texto. Esse mesmo título "PÁTRIA ARMADA BRASIL", que estava estampado no Jornal Super Noticia de Belo Horizonte no dia 16 de janeiro de 2019, um dia depois do atual presidente assinar o decreto, que altera regras para facilitar a posse de armas de fogo. Dentre essas mudanças estão o tempo de validade do registro que foi de 5 para 10 anos (militares e civis), sendo que não é mais preciso mais informar a "necessidade de se ter uma arma", só será preciso informar que mora em área rural ou em alguma cidade violenta, ou se é agente de segurança. Ah e lembrando que agora, o cidadão poderá ter a posse de até 4 armas.

Porem, meu texto de hoje, não é para informar como e aonde conseguir a posse dessas armas, porque eu sou COMPLETAMENTE CONTRA, mas para dizer que a primeira lembrança que veio a minha cabeça após ler essa chamada no jornal, foi a do Bruno.
E não, não é da minha família, mas eu como mãe de duas crianças,  me senti um tanto quanto mãe dele também. Acho que todo mundo que acompanhou essa trajetória triste, sentiu meio que família da família dele. Um disparo efetuado acidentalmente bem na sua testa. Através da curiosidade de dois adolescentes de 15 anos, no bairro Xangrilá em Contagem no dia 25/08/2017. A arma era do pai e estava carregada com 4 balas em cima do guarda roupa e eles pegaram para ver, acontecendo assim, acidentalmente o disparo. Doído ler né? E aí? Será mesmo benéfico termos armas em casa? E nossos filhos? Será que posso mesmo deixar meus filhos irem para a casa de alguém que possui arma (s)? Vou escrevendo esse post e meu estomago vai revirando. Porque eu tive que ir atrás de alguns elementos e pedir autorização para a tia dele. Ana Paula, é namorada de um amigo da nossa família, que acabou virando nossa amiga também. Um doce de menina... Inteligente, família e muito divertida. E não devia passar por aquilo, foi pesado demais! Em um dia seu sobrinho está ali, vivendo a vida de um adolescente comum, se divertindo, paquerando, conversando em suas redes sociais e no outro? Deitado em uma maca de hospital, sangrando? Com seu pai recebendo uma ligação do hospital pedindo para comparecer imediatamente ao local, pois seu filho estava entre a vida e a morte. Por conta de uma curiosidade, o tiro foi disparado, como eu disse, acidentalmente, mas que custou a vida do Bruno. 

'Seu amor é algo que jamais esquecerei e seu sorriso será para sempre um motivo do meu sorriso aparecer. Quem me dera se fosse possível o tempo voltar p eu te proibir de ir para a casa de seu amigo. Não vou ficar lamentando o pq eu n te proibi de sair mas para sempre me lamentarei de não ter tido mais tempo com você. Tenho a certeza de que os melhores momentos da minha vida foram ao seu lado e que jamais viverei novamente com qualquer outra pessoa na mesma intensidade. Sua felicidade sempre foi a minha felicidade. Seus sonhos eram compartilhados comigo.'
O Bruno se foi! Deixou uma dor imensa na família, nos amigos e em mim. Queria escrever mais, porém não estou conseguindo!! A voz da entalada, a cabeça pensando mais rápido que os dedos conseguem digitar. Me desculpem. Achei que seria mais fácil, mas não foi.
Está doendo ler os relatos do Fábio e outros tantos relatos sobre pessoas que perderam pessoas queridas com armas disparadas acidentalmente dentro de casa. 
Um tiro fatal! 
Dói porque eu penso em meus filhos. Sei que na minha casa não entrará uma arma, mas e na casa do meu vizinho? E na casa do coleguinha de escola? Aqui em casa conversamos de tudo, tudo! E eles sabem do perigo. Mas e meu coração de mãe a partir de agora com esse decreto? 

Deixo aqui o relato do Fábio, pai do Bruno, escrito em 04/09/2017:

'Há um mês atrás - 25/08 - 18:10: acabo de receber uma ligação no meu trabalho. Uma pessoa querendo falar com o responsável por Bruno Leonardo R D Silva. Respondo imediatamente: sou eu, pois não? 
A voz do outro lado continua: Sr. Fabio, o Sr seria o pai dele? Eu respondo: sim! Sou a assist social do hosp munic de Contagem. Seu filho acaba de dar entrada aqui conosco com um tiro na testa. Pronto...meu mundo desabou neste instante. Um buraco negro se abre nos meus pés e sinto que estou caindo em um precipício. Aviso quem eu vi q estava indo ao hospital. Minhas pernas não respondiam aos meus comandos e a cabeça não sabia se enviava raciocínio ou se mandava eu chorar. Indo contra todos, saí ao seu encontro correndo pedindo a tds oração. Me atrasei uns 20 min pois me perdi no caminho, tamanha desorientação. Ao chegar no hospital, me deparo com A PIOR CENA DA MINHA VIDA. Vc estava ali, jogado naquela maca fria, sem roupa, sangrando...na luta entre a vida e a morte. O médico avisa: menos de 1% de chance dele voltar. E se voltar, q o milagre seja bem feito pois ele voltaria totalmente sequelado. E eu me pegava em pensamentos únicos c Deus pedindo q um milagre da ressurreição fosse feito. Um milagre q, no meu íntimo, eu já sabia que não seria possível. Neste momento eu apenas pensava: e agora? Como vai ser minha vida? Como vai ser minha caminhada. Eu ja estava sofrendo por uma triste perda recente e agora você? Você vai me abandonar? Pq filho? E nosso combinado? E nossas histórias futuras? Pois é...não deu! Vc partiu..deixamos vc ir como vc nos pediu. Mas nós q ficamos, estamos assim: dilacerados. Estamos tentando, eu estou tentando...mas longe de conseguir. Muito longe. E na minha cabeça? Você está como nesta foto: dormindo. Ao meu lado da cama. E eu te dando nosso famoso bj na testa q tds os dias basicamente existiam. 
Ahh filho, como dói ter q aceitar q vc se foi. Que nos veremos somente em outro plano. Que terei que viver o resto de minha vida (vida?) sem vc! É, tenho que viver. E daí sim, esperar eu acordar do meu pesadelo e ao abrir os olhos, vc estará lá p me receber falando o seu: ei pai, “bença”, te amo! Que saudade! Te amo para sempre mesmo depois do fim!!'


E volto. Tenho muito a dizer sobre isso. Sobre armas, disparos acidentais e sobre mortes. 
Vou me preparar e volto. Mas, será que podemos pensar um pouco mais sobre esse assunto de termos armas em casa?

Um beijo grande. 

p.s. Ana, obrigada por permitir falar sobre esse assunto. Sinta-se abraçada <3

Beijo,