Ser mãe é viver numa eterna encruzilhada de decisões. É ter
que avaliar o custo de oportunidade. Uma reflexão constante sobre as
oportunidades renunciadas e uma reformulação contínua dos projetos de vida, dos
sonhos, das definições de viver bem.
Era tudo tão mais fácil quando éramos apenas nós mesmas. Nós
por nós! Mas a maternidade chegou e o que fazer com todos aqueles sonhos?
Um dos maiores (talvez o maior) desafios de ser mulher-mãe é enfrentar
as normas e expectativas sociais impostas, com base no patriarcado, que
costumam nos anular completamente e nos alegorizar “apenas” em mães quando
parimos.
Tudo o que vem depois disso é uma cobrança sem fim da
sociedade (e não é a parte mais distante da sociedade não! É a família, os
amigos, os vizinhos...) para que estejamos integralmente comprometidas com as
crianças.
Toda decisão será criticada, a mãe sempre será julgada!
Enquanto continuarmos (mães, pais, famílias, escolas, rua...) reproduzindo
machismo em nossas crianças.
E se nesse caminho a mãe retoma atividades suas, que trazem
benefícios para si ou faz algo sozinha, longe de companheiro e/ou filhos, é
rotulada como egoísta!
Bem, egoísmo é quando uma pessoa coloca seus interesses,
desejos, necessidades em prioridade, em detrimento das pessoas que estão em sua
volta. Então se levarmos ao pé da letra... Não é o que todo mundo
faz com muita naturalidade? Quando as pessoas escolhem um emprego ou outro,
quando decidem romper uma relação, quando fazem qualquer coisa que não vai de
encontro com o desejo dos outros?
Não é o que grande parte dos homens/pais fazem? Ao obrigar
mulheres ficarem em casa cuidando do lar e das crianças enquanto trabalham,
encontram com os amigos para jogar, beber e viajar? Não é o que os pais que
simplesmente abandonam os filhos aos cuidados das mães, não pagam pensão ou
pagam uma miséria reclamando, não buscam os filhos para passarem um tempo com
ele, não assumem qualquer responsabilidade ou cuidado com a criança fazem?
Então por que a mãe que decide fazer algo por si, realizar um
sonho ou ter um tempo só é taxada de egoísta? Problemática? Que não ama o
filho?
Porque existe um papel social que nos é implicado, muito bem
delimitado para manter as estruturas de poder entre homens e mulheres, para
manter a territorialidade ocupacional, para nos silenciar e adestrar. Para nos
fazer sentir culpadas.
Precisamos sempre nos manter atentas na garantia dos nossos
direitos, no clamor incessante de “lugar de mulher é onde ela quiser”.
E meu melhor conselho é: avalie as oportunidades, pense em
seus filhos, mas pense em você! Sua vida é muito importante também! Seus sonhos
são importantes! Então não desista!
Sei que não é fácil romper essas estruturas, ainda mais quando
não temos uma rede de apoio e mesmo quando temos ela não deixará de nos
julgar e condenar.
Em meus próximos textos vou contar como tem sido a grande
transição que estou fazendo: de morar em outro Estado e deixar meu filho aos
cuidados do pai.
Quando falo isso, as pessoas começam uma tempestade de
comentários, mas a principal pergunta é: E SEU FILHO? E nós sabemos o quanto
isso é perverso ao perceber que se fosse o pai em meu lugar provavelmente
essa pergunta não existiria. O "problema" seria amenizado.
É isso, nosso modelo de poder e privilégio nos intoxica! Mas
eu sei que tomando essa decisão, também serei o melhor exemplo para o meu filho
aprender que mulheres são livres, que pais exercem o cuidado e que podemos
todos voar em direção aos nossos sonhos.
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