quinta-feira, 14 de março de 2019

Mas e seu filho? Com quem ele vai ficar?

Se você não é o suficiente para você mesma, você nunca será o suficiente para outra pessoa. (Rupi Kaur) 

O que é suficiente? Aquilo que já possui o essencial, o necessário, o que basta ou é razoável, equilibrado. Filosoficamente, aquele estado que satisfaz plenamente. 

Então o que será que Rupi queria dizer com o ser suficiente para você mesma? Gosto de interpretar pensando no amor próprio e nas realizações pessoais. Se eu não estiver feliz com minha vida, minhas decisões, meus ambientes e não me amar primeiramente, como posso esperar que outras pessoas me amem assim? 

Fiquemos com essa reflexão!



Em meu último texto, Mãe Egoísta (clique aqui para ler), comentei sobre minha decisão de mudar de cidade e deixar meu filho aos cuidados do pai. 

Uau! Que coragem! (normalmente é o que as pessoas dizem)

Mas eu sempre tive um sonho (de concluir meu doutorado, de passar por determinada instituição) e sempre acreditei que é meu direito realizá-lo. São muitos os fatores e circunstâncias que me levaram nesta encruzilhada pra decidir ficar fisicamente perto ou não do meu filho neste instante. 

A questão é que não fazia sentido retirar meu filho de um local onde tem mais segurança, com familiares próximos e todo um contexto de moradia para levá-lo comigo a uma cidade mais violenta, sem parentes ou amigos perto.

Dói! Dói em nós dois, mas tenho convicção que a dor seria maior se eu o levasse comigo e o afastasse fisicamente de várias pessoas que ele ama (e amam ele). Assim, decidi encarar minha jornada solitária. 

Quando anunciei para as pessoas, foi unânime! Mas e seu filho? Com quem ele vai ficar? Achei graça (e não surpresa) das pessoas fazerem esse tipo de pergunta. Ou "mas ele vai ficar com sua mãe?". 

Se o pai do meu filho fosse distante e fugisse às responsabilidades de pai até daria para aceitar melhor esse tipo de questionamento, mas não! Sempre foi presente e, de fato, pai! 

E as mesmas pessoas que fizeram esses questionamento sabem, muito bem, do papel fundamental e significativo que o pai dele exerce em sua vida.

A sociedade nunca está pronta para deixar o pai assumir seu lugar na paternidade! Vai sempre questionar, duvidar e ainda tentar fazer a mãe se sentir culpada por dar este "voto de confiança": ah, mas você vai ter coragem de deixar ele com o pai? E ele sabe cuidar direitinho? E/ou sempre vai tentar terceirizar para outra mulher o cuidado: por que não deixa ele com sua mãe? Ah, mas a avó paterna vai ajudar na criação? 

É difícil aceitar quando o pai assume tudo aquilo que as mães já fazem há tanto tempo porque convivemos numa estrutura de poder que define claramente o que esperar de mães e pais. 

Talvez, se mudarmos a forma como criamos nossos filhos, parando de reproduzir esses modelos tóxicos para as mulheres, que as escravizam e sujeitam silenciosamente em muitas regras sociais, possamos ter um amanhã de pais que exercem sua paternidade, com os quais as mães podem contar e confiar.

Imagino esse mundo em que as mães são livres para sonhar porque têm uma rede de apoio e todos os dispositivos sociais que as dão suporte para saltarem em seus sonhos.

Engana quem acha que não penso em meu filho quando salto por meus sonhos. Sabe a frase com a qual comecei o texto? A reflexão da Rupi? Então, como eu posso ser suficiente para meu filho se não me sinto ainda suficiente com minha vida, comigo mesma?

Isso era um sonho, mas virou um objetivo ainda mais importante quando meu filho passou a existir. É pelo nosso (e não meu mais) futuro. E isso é também o que me motiva. Pensar que terei uma qualificação melhor, consequentemente, melhores oportunidades. Que trarão uma vida mais confortável pra gente. 

Isso também não é ser mãe?




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